A sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara foi marcada na manhã desta quarta-feira (21), por bate-boca entre parlamentares, sendo que o deputado Pastor Eurico (PSB-PE) chegou a hostilizar e constranger a apresentadora Xuxa Meneghel, que realizava agenda na Casa.
A reunião foi tumultuada do início ao fim porque os deputados discutiam a redação final da chamada "Lei da Palmada", que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
e proíbe a aplicação de castigos físicos a crianças e adolescentes. A
bancada evangélica é ferrenha opositora da matéria - que aguarda votação
no colegiado há dois anos - e tentava evitar que ela fosse concluída.
Quando Xuxa chegou para
acompanhar a sessão, ao lado da ministra dos Diretos Humanos, Ideli
Salvatti, o clima tenso na reunião já havia provocado interrupção dos
trabalhos. Quando evangélicos cobravam o presidente em exercício, Luiz
Couto (PT-PE), a encerrar a sessão, o deputado Pastor Eurico hostilizou a
apresentadora e disse que sua presença era "um desrespeito às famílias
do Brasil". "A conhecida Rainha dos Baixinhos, que no ano de 82 provocou
a maior violência contra as crianças", disse, referindo-se ao filme "Amor Estranho Amor", daquele ano, em que Xuxa aparece numa cena de sexo com um adolescente de 12 anos.
A declaração do Pastor Eurico gerou repúdio da maior parte dos
deputados presentes, inclusive de parlamentares que questionavam o
projeto, que classificaram a fala de "violência inaceitável". A
apresentadora não se manifestou e, depois de encerrada a sessão, deixou a
comissão sem comentar o assunto.
A fala, no entanto, ajudou a conturbar ainda mais a sessão, que
acabou sem que o projeto fosse votado. Avisado da situação, o presidente
da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), foi ao colegiado e
tentou intermediar um acordo: a CCJ deverá se reunir novamente nesta
tarde para tentar aprovar o projeto. Como tramita em caráter conclusivo e
já foi aprovada por uma Comissão Especial, a chamada "Lei da Palmada"
seguirá diretamente para o Senado quando aprovada pela CCJ.
Lei da Palmada
O projeto em discussão veda o "uso de castigo físico ou de tratamento
cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto". O texto também diz que o Conselho Tutelar,
"sem prejuízo de outras providências legais", deverá aplicar as
seguintes medidas aos pais ou responsáveis que aplicarem castigos
físicos a menores: "encaminhamento a programa oficial ou comunitário de
proteção à família, encaminhamento a tratamento psicológico ou
psiquiátrico, encaminhamento a cursos ou programas de orientação,
advertência ou obrigação de encaminhar a criança a tratamento
especializado". Também diz que profissionais da saúde e da assistência
social ou outra função pública devem informar casos de suspeita de
castigo físico à autoridade competente.
A medida sofre forte resistência sobretudo da bancada evangélica, que
tentou obstruir a votação nesta manhã e que queria trocar expressões
utilizadas na redação. Durante boa parte do ano passado, parlamentares
que se opõem à matéria conseguiram retirar o projeto da pauta do
colegiado por sucessivas vezes. "As denúncias que se trazem para
convencer são de crime com tipificação no Código Penal. O Estado não
consegue aplicar a política de combate ao crime e querem impor o rótulo
(de violência) na família", disse o deputado Marcos Rogério (PDT-RO).
Por outro lado, o relator da proposta, deputado Alessandro Molon
(PT-RJ), afirmou que o objetivo é proteger as crianças e adolescentes
contra graves tipos de violência. "O que quer se combater é o
espancamento e a humilhação de crianças e adolescentes", declarou. "Não
posso acreditar que algum parlamentar acredite que a tortura é
educativa."
Fonte: http://www.redetv.uol.com.br |
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